quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre a carnavalização do carnaval


Todo o carnaval tem seu fim

E é o fim, e é o fim
(Marcelo Camelo)


Este texto começou com um debate hoje de manhã no twitter. Achei que a discussão rendeu tão bem, foi tão participativa, que decidi tentar formatá-la neste post, para uma melhor concatenação das idéias. O tema é o carnaval de Teresina e começou a ser debatido a partir da decisão da Prefeitura de acabar com o desfile das escolas de samba na Avenida Marechal Castelo Branco. O dinheiro que seria gasto na estrutura e arquibancadas será destinado à contratação de trios elétricos que circularão nos bairros da cidade. E as escolas de samba? Farão a abertura das noites. Como em terra de cego quem tem um olho é rei, a proposta foi aceita. Tudo bem que o formato do carnaval de Teresina tinha muitos defeitos, mas, você lembra das promessas do prefeito Sílvio Mendes após o carnaval de 2006? Foi naquele ano (um dos, na verdade) em que um pé d'água fez um desfile capenga ir por água abaixo. Literalmente, no caso. Mas enfim, lembro bem da proposta do sambódromo, com uma área apropriada para a comunidade assistir ao desfile fazendo chuva ou fazendo sol (ou lua) e uma espécie de escola de capacitação para a profissionalização da festa. Cogitou-se à época trazer os técnicos das escolas do Rio de Janeiro para capacitar os moradores das comunidades e assim tornar a atividade do carnaval durável o ano inteiro, gerando empregos, movimentando a cidade, as comunidades. São propostas espetaculares que, de repente, poderiam mudar a cara de paisagem do nosso desfile atual. Mas não saíram do papel. Talvez não tenham nem chegado à ele. Ficou no campo dos discursos. O fato do desfile das escolas ser capenga não significa que simplesmente deva ser jogado às moscas (ainda mais). Muito mais digno seria realizar um estudo, capacitar esse povo, profissionalizar. Parar, sentar e reinventar. É muito cômodo simplesmente colocar os trios nos bairros. Não dá trabalho, e todo mundo vai lá, com o pão e o circo. Em tese, a capacitação e a profissionalização seriam capazes de tornar o desfile atrativo, e seriam capazes de gerar empregos o ano todo. Não gosto do desfile como é hoje, sem sal, sem graça, sem cor, no improviso, com briga demais e carnaval de menos. Apenas não concordo com o comodismo da solução. E entendo que o problema maior é que no meio dos guerreiros que não largam a bandeira das escolas existem os aproveitadores que também não largam o osso e sempre querem carne. É necessário reinventar. Não pode ficar como está. Carnaval com trio elétrico tem o ano todo, em todo lugar. Não precisa ser Carnaval para ter este tipo de carnaval. Os colegas tuiteiros estão certíssimos quando afirmam que não se pode impor uma tradição, que os blocos de rua, o Corso do Zé Pereira, a brincadeira com maisena podem até ser muito mais representativo/identificador do carnaval dos teresinenses do que as próprias escolas de samba. Estão certos ao afirmarem que aqui não é o Rio de Janeiro, nem a Bahia. Que não se pode simplesmente querer que os governos invistam o dinheiro público numa ação sem resultados; que existem sim os aproveitadores.  Ainda assim, insisto: os desfiles das escolas e dos blocos de rua não atraem a população por que são mal feitos ou são mal feitos por que não atraem ninguém? Tudo o que e é ruim, sem qualidade desagrada, é chato. E, apesar dos pesares, existe uma quantidade considerável de pessoas apaixonadas pelo carnaval, pelos desfiles. E se fosse organizado de fato? Se a comunidade pudesse se envolver? Teríamos um quadro diferente? Não sei responder. Creio apenas ser preciso mudar. Chega das brigas bobas dos diretores, da doação de R$ 60 mil para as escolas torrarem à toa, dos desfiles ridículos. Mas chega também da preguiça e da falta de coragem para repensar o carnaval, seja com escolas, com blocos, com o Corso do Zé Pereira, com a festa da maisena. É muito fácil dizer que não presta (ainda mais quando não presta mesmo), do que parar para olhar a questão de forma mais aprofundada. E por que isso não é feito? Resposta: dá trabalho e os resultados são demorados. E quem tem o poder nas mãos quase sempre funciona assim meio que eleitoralmente. Como se sabe a profissionalização do carnaval (que ocorreria a médio e a longo prazos) não dá votos. Melhor o circo dos trios elétricos, efervescentes, efêmeros, sem compromissos. Só que eles são um entendimento equivocado do espírito da coisa. E olha que o dinheiro público continuará sendo gasto da mesma forma. É bem verdade que melhor seria se melhor fosse. Contudo, volto a atentar: e se o poder público assumisse o papel de regulador e fomentador da carnavalização do carnaval? E se esse investimento público no carnaval fosse usado condicionando à geração de emprego na comunidade pelas escolas de samba, pelos blocos? Cuidaríamos de dois coelhos com uma idéia só? A história está aí para provar que as mudanças ocorreram sempre com o controverso, com o desafio. Precisamos acabar com a Indústria do Carnaval e fazer do carnaval uma indústria. E isso não é apenas uma frase de efeito. É uma proposta.


Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
(Marcelo Camelo)


TUITADAS PINÇADAS DA DISCUSSÃO

@katyadangelles: só ficará ás moscas se os presidentes das escolas quiserem...

@andrepiaui: Eu troco o carnaval por paradas de ônibus melhores para a população.

@clarissapoty: Carnaval é festa popular, não adianta criar soluções artificiais. Penso o mesmo sobre os Trios e sobre as Escolas

@caioaraujo: não acho certo acabar o carnaval em Teresina, so acho MUITO errado usar dinheiro publico pra fazer esse tipo de "investimento"

@fabiocabeca: Todo ano o Corso é um sucesso, e os desfiles não, apesar do esforço de gente como da Sambão. Vou insistir no Zé Pereira

@tycianevaz: É preciso estudar a realidade local, as carências, necessidades e expectativas
do povo.Não adianta investir alto em algo que não dá retorno!

@apxpaula: é disso que eu falo. Investir onde não existe tradição e amor é jogar dinheiro fora. Maizena já!!! A melhor tradição é sempre a nossa!

@renatamagalhaes: Sobre o carnaval de Teresina, a impressão que eu tinha era que as pessoas simplesmente não gostavam de brincar carnaval!

@dayanneholanda: Bom exemplo se vê em Recife/Olinda. Pouco governo. Patrocinadores aos montes. Planejamento e criatividade!

@f3rnand0CB: Sou mais a prefeitura correr pro extremo oposto e fazer algo diferenciado, e que atraia gente e renda.


@marinavieira82: lá de onde eu vim sei que tem muita gente que se dedicaria se tivesse oportunidade

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sentidos

Hoje acordei com vontade daquele beijo doce, da pele macia, daquele cheiro suave que só ela tem
Acordei com uma sinfonia rara de sussurros e gemidos provocando minha pele a exalar amor
Juro que senti aquela boca molhada em meu corpo quente
Juro, mais ainda, que minha boca também encheu d’água, salivando desejo
A vontade de sorrir aquele sorriso, de ser mais igual, mais diferente, acordou comigo
Acordei querendo despir o medo, a ânsia, as roupas dela
Todos os dias eu durmo
E acordo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O silêncio

O silêncio, no meio da conversa, falava
Palavras soltas, espaçadas, gaguejadas
Frases incompletas, mau ditas, malditas

Nos dois lados da linha, a vontade
E o silêncio, sempre dúbio, esperava
Perdido, no meio das palavras
Queria dizer, silenciava

Sendo a coragem e ao mesmo tempo o medo
Aquele silêncio incomodava
Ele falava, ele calava

No meio da conversa o silêncio insistia
Queria calar, e falava
Queria falar, e calava
Tanto pra dizer, mau dito silêncio, maldito

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Marcas

Aquele riso raso, profundo
A voz forte que não sabe cantar
A brasa no olhar safadamente inocente
A pele de cheiros, de dores, gozo, sabores
E as unhas de quem sabe o que sente

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Reflexos, reflexões

Hoje acordei decidido a mudar. É isso, preciso mudar. Comecei aparando a barba. Estava quase preenchendo o primeiro item para ser candidato a homem-bomba no Iraque. E sabe como é, sou muito apegado ao meu corpo inteiro, montado, cada peça em seu lugar. Não tirei por completo. Ficou tipo mal-feita-bem-cuidada. Será meu novo estilo. Pelo menos até o dia em que decidir mudar de novo.
Outra coisa: vou mudar o apartamento. É necessário. Observando-o um pouquinho não consegui entender muito bem a relação entre o significado do substantivo apartamento e ele. A cara de decepção da minha mãe vista da última vez que pôs os pés por lá tinha uma razão de ser. Não tenho o que discutir, minha mãe tem sempre razão. Não será uma ação brusca: terá início, meio e continuação. Tirar vazamentos, mudar a pintura, (alguns) móveis novos. Será uma (nova) relação de cuidado, atenção, amor, troca de sentimentos. Tudo de forma muito passional, intensa e para sempre, até quando durar. Será importante chamá-lo de lar, viver nele, com ele.
E meu carro, coitado!. No lugar da tradicional frase “me lave” seria melhor ter “me adote” ou até mesmo “me salve”. E ele não precisa sequer de pneus novos. Só remendar o que está furado, colocar o para-choque no lugar, uma lavagem (que inclui tirar quilos e quilos de troços e coisas e lixo que “guardo” por lá) e depois cuidado, carinho e diálogo. Continuo crendo no diálogo. Quando dois querem, tudo se resolve. O fato é que basta um dia de dedicação e pimba. Só um dia e ainda não fiz. Quando vou aprender que carro também é gente?
Aliás, ainda tenho tanto pra aprender. Mas, (acho) que já estou começando. Exemplo disso foi entender que a primeira etapa para colocar as leituras em dia começa com rasgar os plásticos dos livros amontoados no quarto. Então é só começar a passar as folhas sempre que a vista alcançar a última mancha preta no canto direito da página. E viajar pelas palavras. E passar de um livro a outro no decorrer das horas, dos dias, dos meses. Falando assim até parece um movimento robótico. Só que robôs (ainda) não riem, choram, se emocionam com os escritos.
Também começo a compreender que os desejos de cozinhar, dançar, entender de vinhos, de azeites e de cafés não são apreendidos por osmose. São conhecimentos que precisam ser adquiridos, como todos os outros.
Confesso que sempre gostei de filmes de vampiros, mas não quero ser um. Gosto de olhar no espelho e me enxergar refletido nele.
Hoje acordei com vontade de abrir os olhos.