quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A regra é clara, ou não

Diferente do Brasileirão, no jogo do amor não há campeão
Ou você concorda com o empate
Ou os dois são derrotados
E voltam para a segunda divisão

A rua não estava lá

Frases de Felipe – 4 anos

O palco é a praça de alimentação da Praia de Verão do Teresina Shopping. Após tomar um copo de coca-cola, Felipe dá um arroto daqueles, digno de deixar qualquer pai do tipo babaca-machão (quem não fica assim durante 5 minutos por dia que atire a primeira pedra) gargalhando todo orgulhoso. Repreendido por quem tem um pouco mais de noção de civilidade e de convivência social, mudo a face e uso meu ar de pai austero para dar noções básicas de educação convencional:  

-    Felipe, a gente não pode arrotar desse jeito quando estiver na rua?

Instantaneamente ele olha pra um lado e pro outro, ativa as dobras dos cotovelos pra baixo e as palmas das mãos pra cima e se defende com a prova cabal de quem está totalmente certo:

- E cadê a rua papai?

Moral da história: O preço de ser babaca-machão é bater com a cara no chão.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quando entra água no discurso

Frases do Felipe - 4 anos 

- Papai, a água que sai do chuveiro não é a mesma água da piscina?
Questiona Felipe, de primeira, com a cara de poucos amigos, entrando no carro e cruzando os braços.

- É sim.
- Então por que eu posso banhar de chuveiro e não posso banhar de piscina?

Depois de meia hora gargalhando sem parar fui entender que naquele dia havia banho de piscina no colégio e ele, gripado, havia sido proibido de entrar na água, apesar de ter tomado um banho, no chuveiro.


Moral da história: Criança esperta dá banho em adulto distraído!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Eureka - Frases do Felipe

A idéia não é assim original. Dia desses assisti Arnaldo Antunes numa entrevista pro Jô falando que escrevia as frases do filho dele de três anos de idade e depois lançou um livro. Não pretendo lançar o livro, mas a partir de hoje vou registrar aqui as melhores frases de Felipe. Pois é, gostei muito da idéia e copiei. A originalidade dessa história ficará por conta dele. Felipe tem 4 anos e suas pérolas merecem ser eternizadas. Até pra depois a gente rir muito de tudo isso e no dia da festa de formatura / maioridade / casamento, eu possa colocar num telão (outro no equipamento mais moderno existente à época) e mostrar para todo mundo. E todos vão rir. Ele também. Felipe adora rir: já entendeu que essa é melhor parte da vida. Aliás, ele me surpreende a cada dia. Felipe é o tipo do cara inteligente, perspicaz, bonito, simpático, sexy e gente boa. Estudos científicos denominam esse fenômeno de DNA paterno, coisa de genética, sabe? Mas, existem outros ângulos, frutos da ciência popular: tem quem chame isso de corujisse de pai (também conhecido como “paiaçada”) e outros acusam o pai de querer se beneficiar às custas do filho, o chamado pai caroneiro. A discussão é longa mas uma coisa é certa: você me entenderá independentemente de qual posição concordar. E chega de lenga lenga, vamos ao que interessa.

Frases do Felipe - 4 anos – Descobrindo o secreto


-    Papai, aprendi a escrever uma palavra secreta, quer ver?

Após a resposta positiva e um minuto rabiscando o papel, ele me mostra algo parecido com uma palavra, mas sem um significado aparente, pelo menos não na língua portuguesa e não na minha ignorância de adulto adestrado.

-    E que palavra é essa que você escreveu?
-    Papai, eu não sei. É tão secreta que ninguém sabe o que é.

Moral da história: Se todo mundo pensasse como Felipe, os segredos seriam realmente secretos e nós poderíamos ser mais felizes.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Por um carnaval com “ésses” e sem “pês”

Estão querendo partidarizar a discussão sobre a polêmica mudança no carnaval de Teresina. Também não entenderam o espírito da coisa. E o pior, vão perder uma grande oportunidade de parar, pensar e reinventar a folia na capital. Parece difícil entender que carnaval é uma festa de todas as cores, de todos os tamanhos, de todos os sexos, uma festa plural com todos os “ésses” que ele oferece: de diversões, folias, sorrisos, maisenas, brincadeiras, desfiles, amizades, histórias, alegrias e também de propostas, responsabilidades, sustentabilidades e de empregos. Mas não é uma festa de partido político. O único permitido no carnaval é o Partido Alto. A política, no seu sentido de politicagem, de politicalha, é a maior responsável pelo atraso que temos, inclusive pelo manco do desfile de nossas escolas de samba, dos nossos blocos de rua e até de nossas festas de maisena. A política que o carnaval precisa é da revitalização, é a pública, é a política socialmente pensante. O carnaval não precisa de partido político, não precisa de bate-boca político partidário, não precisa desses “pês” de sopa de letrinha que, ao final da tradução, significam a mesma coisa e só querem meter a mão no dinheiro público e escondê-lo, seja em meias, seja em cuecas, ou em outros locais que me recuso a pensar agora. Tanto faz. Ainda não entenderam que a farinha que move o carnaval é outra. E que os sacos são muito diferentes.

Respostas

E quando nossos olhares se cruzam, nossas línguas se calam e o mundo para?
E quando nossos cheiros se unem, nossas bocas se molham e nossos corpos se grudam?
E quando o suor é puro desejo em seu formato líquido?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sobre a carnavalização do carnaval


Todo o carnaval tem seu fim

E é o fim, e é o fim
(Marcelo Camelo)


Este texto começou com um debate hoje de manhã no twitter. Achei que a discussão rendeu tão bem, foi tão participativa, que decidi tentar formatá-la neste post, para uma melhor concatenação das idéias. O tema é o carnaval de Teresina e começou a ser debatido a partir da decisão da Prefeitura de acabar com o desfile das escolas de samba na Avenida Marechal Castelo Branco. O dinheiro que seria gasto na estrutura e arquibancadas será destinado à contratação de trios elétricos que circularão nos bairros da cidade. E as escolas de samba? Farão a abertura das noites. Como em terra de cego quem tem um olho é rei, a proposta foi aceita. Tudo bem que o formato do carnaval de Teresina tinha muitos defeitos, mas, você lembra das promessas do prefeito Sílvio Mendes após o carnaval de 2006? Foi naquele ano (um dos, na verdade) em que um pé d'água fez um desfile capenga ir por água abaixo. Literalmente, no caso. Mas enfim, lembro bem da proposta do sambódromo, com uma área apropriada para a comunidade assistir ao desfile fazendo chuva ou fazendo sol (ou lua) e uma espécie de escola de capacitação para a profissionalização da festa. Cogitou-se à época trazer os técnicos das escolas do Rio de Janeiro para capacitar os moradores das comunidades e assim tornar a atividade do carnaval durável o ano inteiro, gerando empregos, movimentando a cidade, as comunidades. São propostas espetaculares que, de repente, poderiam mudar a cara de paisagem do nosso desfile atual. Mas não saíram do papel. Talvez não tenham nem chegado à ele. Ficou no campo dos discursos. O fato do desfile das escolas ser capenga não significa que simplesmente deva ser jogado às moscas (ainda mais). Muito mais digno seria realizar um estudo, capacitar esse povo, profissionalizar. Parar, sentar e reinventar. É muito cômodo simplesmente colocar os trios nos bairros. Não dá trabalho, e todo mundo vai lá, com o pão e o circo. Em tese, a capacitação e a profissionalização seriam capazes de tornar o desfile atrativo, e seriam capazes de gerar empregos o ano todo. Não gosto do desfile como é hoje, sem sal, sem graça, sem cor, no improviso, com briga demais e carnaval de menos. Apenas não concordo com o comodismo da solução. E entendo que o problema maior é que no meio dos guerreiros que não largam a bandeira das escolas existem os aproveitadores que também não largam o osso e sempre querem carne. É necessário reinventar. Não pode ficar como está. Carnaval com trio elétrico tem o ano todo, em todo lugar. Não precisa ser Carnaval para ter este tipo de carnaval. Os colegas tuiteiros estão certíssimos quando afirmam que não se pode impor uma tradição, que os blocos de rua, o Corso do Zé Pereira, a brincadeira com maisena podem até ser muito mais representativo/identificador do carnaval dos teresinenses do que as próprias escolas de samba. Estão certos ao afirmarem que aqui não é o Rio de Janeiro, nem a Bahia. Que não se pode simplesmente querer que os governos invistam o dinheiro público numa ação sem resultados; que existem sim os aproveitadores.  Ainda assim, insisto: os desfiles das escolas e dos blocos de rua não atraem a população por que são mal feitos ou são mal feitos por que não atraem ninguém? Tudo o que e é ruim, sem qualidade desagrada, é chato. E, apesar dos pesares, existe uma quantidade considerável de pessoas apaixonadas pelo carnaval, pelos desfiles. E se fosse organizado de fato? Se a comunidade pudesse se envolver? Teríamos um quadro diferente? Não sei responder. Creio apenas ser preciso mudar. Chega das brigas bobas dos diretores, da doação de R$ 60 mil para as escolas torrarem à toa, dos desfiles ridículos. Mas chega também da preguiça e da falta de coragem para repensar o carnaval, seja com escolas, com blocos, com o Corso do Zé Pereira, com a festa da maisena. É muito fácil dizer que não presta (ainda mais quando não presta mesmo), do que parar para olhar a questão de forma mais aprofundada. E por que isso não é feito? Resposta: dá trabalho e os resultados são demorados. E quem tem o poder nas mãos quase sempre funciona assim meio que eleitoralmente. Como se sabe a profissionalização do carnaval (que ocorreria a médio e a longo prazos) não dá votos. Melhor o circo dos trios elétricos, efervescentes, efêmeros, sem compromissos. Só que eles são um entendimento equivocado do espírito da coisa. E olha que o dinheiro público continuará sendo gasto da mesma forma. É bem verdade que melhor seria se melhor fosse. Contudo, volto a atentar: e se o poder público assumisse o papel de regulador e fomentador da carnavalização do carnaval? E se esse investimento público no carnaval fosse usado condicionando à geração de emprego na comunidade pelas escolas de samba, pelos blocos? Cuidaríamos de dois coelhos com uma idéia só? A história está aí para provar que as mudanças ocorreram sempre com o controverso, com o desafio. Precisamos acabar com a Indústria do Carnaval e fazer do carnaval uma indústria. E isso não é apenas uma frase de efeito. É uma proposta.


Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz
(Marcelo Camelo)


TUITADAS PINÇADAS DA DISCUSSÃO

@katyadangelles: só ficará ás moscas se os presidentes das escolas quiserem...

@andrepiaui: Eu troco o carnaval por paradas de ônibus melhores para a população.

@clarissapoty: Carnaval é festa popular, não adianta criar soluções artificiais. Penso o mesmo sobre os Trios e sobre as Escolas

@caioaraujo: não acho certo acabar o carnaval em Teresina, so acho MUITO errado usar dinheiro publico pra fazer esse tipo de "investimento"

@fabiocabeca: Todo ano o Corso é um sucesso, e os desfiles não, apesar do esforço de gente como da Sambão. Vou insistir no Zé Pereira

@tycianevaz: É preciso estudar a realidade local, as carências, necessidades e expectativas
do povo.Não adianta investir alto em algo que não dá retorno!

@apxpaula: é disso que eu falo. Investir onde não existe tradição e amor é jogar dinheiro fora. Maizena já!!! A melhor tradição é sempre a nossa!

@renatamagalhaes: Sobre o carnaval de Teresina, a impressão que eu tinha era que as pessoas simplesmente não gostavam de brincar carnaval!

@dayanneholanda: Bom exemplo se vê em Recife/Olinda. Pouco governo. Patrocinadores aos montes. Planejamento e criatividade!

@f3rnand0CB: Sou mais a prefeitura correr pro extremo oposto e fazer algo diferenciado, e que atraia gente e renda.


@marinavieira82: lá de onde eu vim sei que tem muita gente que se dedicaria se tivesse oportunidade

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sentidos

Hoje acordei com vontade daquele beijo doce, da pele macia, daquele cheiro suave que só ela tem
Acordei com uma sinfonia rara de sussurros e gemidos provocando minha pele a exalar amor
Juro que senti aquela boca molhada em meu corpo quente
Juro, mais ainda, que minha boca também encheu d’água, salivando desejo
A vontade de sorrir aquele sorriso, de ser mais igual, mais diferente, acordou comigo
Acordei querendo despir o medo, a ânsia, as roupas dela
Todos os dias eu durmo
E acordo!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O silêncio

O silêncio, no meio da conversa, falava
Palavras soltas, espaçadas, gaguejadas
Frases incompletas, mau ditas, malditas

Nos dois lados da linha, a vontade
E o silêncio, sempre dúbio, esperava
Perdido, no meio das palavras
Queria dizer, silenciava

Sendo a coragem e ao mesmo tempo o medo
Aquele silêncio incomodava
Ele falava, ele calava

No meio da conversa o silêncio insistia
Queria calar, e falava
Queria falar, e calava
Tanto pra dizer, mau dito silêncio, maldito

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Marcas

Aquele riso raso, profundo
A voz forte que não sabe cantar
A brasa no olhar safadamente inocente
A pele de cheiros, de dores, gozo, sabores
E as unhas de quem sabe o que sente

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Reflexos, reflexões

Hoje acordei decidido a mudar. É isso, preciso mudar. Comecei aparando a barba. Estava quase preenchendo o primeiro item para ser candidato a homem-bomba no Iraque. E sabe como é, sou muito apegado ao meu corpo inteiro, montado, cada peça em seu lugar. Não tirei por completo. Ficou tipo mal-feita-bem-cuidada. Será meu novo estilo. Pelo menos até o dia em que decidir mudar de novo.
Outra coisa: vou mudar o apartamento. É necessário. Observando-o um pouquinho não consegui entender muito bem a relação entre o significado do substantivo apartamento e ele. A cara de decepção da minha mãe vista da última vez que pôs os pés por lá tinha uma razão de ser. Não tenho o que discutir, minha mãe tem sempre razão. Não será uma ação brusca: terá início, meio e continuação. Tirar vazamentos, mudar a pintura, (alguns) móveis novos. Será uma (nova) relação de cuidado, atenção, amor, troca de sentimentos. Tudo de forma muito passional, intensa e para sempre, até quando durar. Será importante chamá-lo de lar, viver nele, com ele.
E meu carro, coitado!. No lugar da tradicional frase “me lave” seria melhor ter “me adote” ou até mesmo “me salve”. E ele não precisa sequer de pneus novos. Só remendar o que está furado, colocar o para-choque no lugar, uma lavagem (que inclui tirar quilos e quilos de troços e coisas e lixo que “guardo” por lá) e depois cuidado, carinho e diálogo. Continuo crendo no diálogo. Quando dois querem, tudo se resolve. O fato é que basta um dia de dedicação e pimba. Só um dia e ainda não fiz. Quando vou aprender que carro também é gente?
Aliás, ainda tenho tanto pra aprender. Mas, (acho) que já estou começando. Exemplo disso foi entender que a primeira etapa para colocar as leituras em dia começa com rasgar os plásticos dos livros amontoados no quarto. Então é só começar a passar as folhas sempre que a vista alcançar a última mancha preta no canto direito da página. E viajar pelas palavras. E passar de um livro a outro no decorrer das horas, dos dias, dos meses. Falando assim até parece um movimento robótico. Só que robôs (ainda) não riem, choram, se emocionam com os escritos.
Também começo a compreender que os desejos de cozinhar, dançar, entender de vinhos, de azeites e de cafés não são apreendidos por osmose. São conhecimentos que precisam ser adquiridos, como todos os outros.
Confesso que sempre gostei de filmes de vampiros, mas não quero ser um. Gosto de olhar no espelho e me enxergar refletido nele.
Hoje acordei com vontade de abrir os olhos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Roseana Sarney e a pequenez política de sempre

A pequenez política brasileira foi bem representada nesta quarta na chantagem da governadora do Maranhão Roseana Sarney. Barrar o processo de implantação da Rota das Emoções envolvendo o Piauí, Ceará e Maranhão, para exigir a construção do aeroporto em Barreirinhas é jogar no lixo todo o processo de discussão e negociação iniciado ainda em 2006 e já acordado por cinco governadores: dois do Ceará (Lúcio Alcântara e Cid Gomes), dois do Maranhão (José Reinaldo e Jackson Lago) e o governador do Piauí, Wellington Dias (único reeleito em 2006). Ora, o processo de criação do roteiro integrado é uma decisão de Estado e não de governo, com os projetos já aprovados nas três Assembléias Legislativas. É lei e ponto. A postura de Roseana Sarney (a terceira a governar o Maranhão durante esse processo) não passa de bairrismo infantil e eleitoreiro. Se realmente existisse uma preocupação com o estado, o Maranhão teria que ser hoje próspero e desenvolvido, afinal estamos falando de uma política dominada e de um estado governado desde sempre pela família Sarney e seus apaniguados. O patriarca da família, José Sarney (presidente do Senado), já foi até Presidente da República e hoje continua sendo um dos políticos mais influentes do Brasil (agora também um dos mais envolvidos em escândalos). Ainda assim o Maranhão amarga os piores índices de desenvolvimento da nação. Se a preocupação com o desenvolvimento nunca foi tão prioritária assim, por que haveria de ser agora? Roseana está jogando no lixo o acordo firmado entre os três estados e o Governo Federal que deixava claro que o Piauí ganhava o aeroporto internacional em Parnaíba (numa estrutura já existente e estrategicamente melhor localizada), o Maranhão ganhava estradas e o Ceará a escola de Turismo em Camocim. Ela está ignorando que já existe um Consórcio e todo um trabalho em andamento capaz de desenvolver o turismo nos três estados e não só no Maranhão. Com sua proposta coronelista de moeda de troca, Roseana joga o bom senso ao vento e coloca a perder um projeto que já foi referência e inspiração para todo o Brasil, premiado inclusive pelo Ministério do Turismo. Ela faz a política minúscula de sempre, só que dessa vez, além do Maranhão, atinge também o Piauí, o Ceará e o sonho de um turismo desenvolvido na região.

(Publicado originalmente na coluna Roda Viva (Jornal O DIA).